sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pessoas que conheci em 2011 (ou auto-terapia)

Não tenho lembranças.

Tenho pequenos flashes, que nunca saberei se são verdades.

Porém, me recordo que, com 11 anos, já era completamente deslocada.

Eu nunca tinha ido na Disney, não tinha um jogo completo de acessórios escolares oficiais da Barbie, não tinha um Game Boy Color com câmera, e, obviamente, não era bonita. (E que fique bem claro que ainda hoje não tenho nada disso. Só o GBC. Sem câmera. Com um só jogo. Adivinhem qual.)

Usava All-Star verde escuro, um óculos de aro rosa da Turma da Mônica, aparelho móvel também rosa (com um adesivo do piu-piu e meu nome bonitinho com os dois Ls), o pior cabelo que você consiga imaginar e uniformes manchados de água sanitária.

Acostumada a ser estranha, me tornei uma observadora. Adorava olhar as coisas mais banais, como o forma que as meninas prendiam o cabelo, o jeito que os meninos se cumprimentavam, o lugar onde as pessoas sentavam. Copiava e adaptava o que eles faziam. Foi último ano que fiquei naquela escola. E foi a melhor decisão que tomei em conjunto com a minha família.

Acredito que esse período de um ano só não foi mais marcante que o que viria dois anos depois. Mas isso não vem ao caso. O fato é, eu sempre digo que bullying constrói caráter, porque foi através da exclusão social que pude me tornar quem eu sou e sempre serei: Uma pensadora dentro de uma criança. 

Sei como o mundo funciona, vejo as pessoas agindo como bonecos, ajo diferente e tomo bonito. Sempre. Dá problema, me sinto mal, mas depois de um tempo eu gosto. Eu vejo que me fez mudar e gosto. Dizer algo quando não é pra dizer. Ser amigo de quem ninguém gosta. Ver o outro lado da montanha, onde não está ninguém por não ter dinheiro ou status ou nem mesmo bem-estar por lá. Falando assim, parece pirraça de criança mesmo. Talvez seja. Mas a vida não me deu oportunidade de ser uma menina bonita, com dentes e cabelos brilhantes e um belo namorado. Não tenho muito o que perder.

Outra coisa que não tenho é a habilidade de manter as pessoas muito próximas de mim depois que as conheço. Mas esse ano, sem dúvida, foi um dos piores. Talvez por ter conhecido mais pessoas, consegui observar esse padrão.

Como funciona: A pessoa me conhece, trocamos meia dúzia de palavras, ela se impressiona comigo, me acha "suuuper legal" (A.K.A. alguém que é ótimo na conversa, mas sem nenhum outro apelo), logo depois escrevo/digo/faço alguma coisa que a faz me achar infantil. O chão se quebra sob nossos pés. Estamos divididos pela eternidade. THE END.

Eu não tinha parado pra pensar sobre o por quê disso, uma vez que minha mente está diariamente tomada de "por que tenho tantos amigos gays e lésbicas" e "por que não consigo fazer ninguém se atrair por mim", até lembrar dessa época, em que parei de me expressar como um membro da sociedade e apenas me tornei uma admiradora silenciosa da forma que ela funcionava. A minha infância se findou, e junto dela, a minha parte nessa história comum das pessoas comuns. E desde então sou essa confusão de grandes pensamentos, poucos feitos, muito atrevimento, excesso de babaquisse, boa criatividade e claro, deslocamento total de todo grupo em que faço parte.

PS.: Eu ainda prendo meu cabelo como aquela oriental pré-adolescente prendia. Girando o frufru e puxando o cabelo. Pra falar a verdade, nem lembro como fazia antes.

Um comentário:

Michelle Miguel Felicio disse...

Cê é foda. Fantástico texto.