E desde sempre eu era a última, desde sempre fiquei com os restos.
Eu sempre fui aquela com o sorriso, que animava os amiguinhos que tinham ralado o joelho e que no dia seguinte estava novamente no recreio sozinha. Ganhei até prêmio por isso. Os adultos realmente notavam meus feitos. Achava que fosse o problema de ser criança. Os adultos hoje notam, mas não querem nem saber.
Sempre sonhei com alguém que notasse meus feitos e me presenteasse com um relacionamento feliz entre duas pessoas que entendiam o mundo e se admiravam mutuamente. Anos se passaram. Arrumei amigos que gostavam da minha espontaneidade, um deles se destacou, mas passou voando por mim. Não teve tanta admiração assim. Arrumei mais amigos, pessoas que eu achei que estavam juntas por causa da minha vontade delas estarem juntas, mas no fim, passei um ano sem elas e elas nem sentiram minha falta. Estavam até melhor assim. Segundo elas próprias, o melhor ano de suas vidas.
Comecei a ficar chateada, porque além de não ter o super estimado namorado, eu nem conseguia ter amigos que me achavam AQUELA pessoa. Sabe, aquela pessoa que você fica a sós com ela e não fica um silêncio estranho? Que você sempre quer que esteja junto? Que pensa em algo legal só pra dizer pra ela? Aquela.
Tive uma terceira experiência que foi muito além de amizades e entravam em questões mais sociais e culturais. Fiquei encantada. Até hoje me encanta, por ainda entreter meus "sensores analiticos" a ponto de esconder o fato de que eu ainda sou a última. A última pra todos.
Mesmo quando eu não sou a última, eu sou a última. Eu ganho os desenhos mais feios, os presentes mais obrigados, as promoções de trabalhos sem aumento, os convites pras festas mais chatas, as mensagens mais forçadas.
Eu não pertenço a nenhum grupo que me acolhe. Todos os grupos me excluem. E eu me identifico com os excluídos de verdade. Não os que a sociedade deu pra enfiar em panelinhas de benefício e que estão se dando super bem. Os excluídos de verdade. Os que nem a própria mãe acha bem legal.
E ninguém me acha "a mais legal". As pessoas só me usam e/ou retribuem o que eu faço por elas.
Essa era a única coisa que desejei desde muito pequena. Alguém que me achasse a mais legal. Eu conheço algumas pessoas que são consideradas as mais legais. Eu conheço algumas pessoas que se acham as mais legais. Eu conheço algumas pessoas que lutam para ser as mais legais. E claro, por último, estou eu. A que não tenta ser a mais legal, por saber que nunca vai ser a mais legal.
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